quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A minha

Recife, 25 de fevereiro de 2009



Consulado Geral Britânico

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Rio de Janeiro RJ
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REF: SOLICITAÇÃO DE VISTO DE NOIVA: MARCELA COUTINHO PONTUAL


Depois de sete meses morando em Londres conheci Henry. O que era pra ser apenas um encontro casual se tornou um relacionamento de verdade. Cristiana Guerra, nossa amiga em comum, nos apresentou em um bar em Camden, Londres. A partir desta data nos tornamos cada dia mais próximo um do outro. Ele conheceu os meus amigos e eu conheci os dele. Saímos para jantar, ele me mostrou um lado de Londres que eu não conhecia. Sai do meio dos turistas e passei a fazer parte da própria vida inglesa. Ficamos juntos pelos próximos três meses, quando no inicio de maio, sai de Londres para viajar um mês pela Europa. Na segunda semana de junho, nos encontramos novamente em Lisboa - Portugal e podemos matar a saudade que já existia. Essa foi a primeira das despedidas, a menos sofrida e a mais incerta.

Nos seis meses subseqüentes mantemos contato e nos programamos para nos encontrar de novo. Em fevereiro de 2008 Henry veio para o Brasil me ver. Finalmente, ele conheceu minha família e meus amigos. Passamos três semanas aproveitando o Brasil, o calor, a praia e a família. Meu pai se apaixonou por ele a primeira vista, mesmo sabendo da dificuldade do nosso relacionamento, sempre me apoiou em minhas decisões. Nunca questionou, nem por um segundo, até onde eu iria levar esse relacionamento a diante. As três semanas se passaram rápido demais e mais uma vez a despedida. Sem dúvida essa foi a pior parte da viagem, sempre com lágrimas e promessas de se ver logo. Ali, Henry já fazia planos pra se mudar pro Brasil em julho de 2009, quando finalmente nós poderíamos ter uma relação normal. Infelizmente e felizmente, a vida nos surpreendeu antes do esperado.

Em maio do mesmo ano viajei para Europa com meus pais e nos encontramos com a minha irmã, que nessa época estava morando em Londres. Viajei com eles por 20 dias e o nosso último destino foi Londres. Finalmente, eu iria mostrar pros meus pais como tinha sido a minha vida e quem eram os meus amigos. Três dias depois eles voltaram para o Brasil e eu decidi ficar mais tempo com Henry. Nesse meio tempo, adiei a passagem de volta porque o que eu queria mesmo era ficar lá com ele pra sempre. Um fim de semana antes de voltar para o Brasil, Henry me levou para Cheltenham, onde pude conhecer seus pais, sua irmã, seu cunhado e seu sobrinho. Eles me receberam muito bem e desde o primeiro dia tive uma relação maravilhosa com a irmã dele e com o seu filhinho. Hoje, ele é meu querido, meu pequeno, mesmo falando línguas diferentes e ele mal falando o próprio inglês, ele me ama e eu amo ele. Voltei pro Brasil com mais uma dolorosa despedida. Muitas lágrimas e promessas de se ver logo. O que não sabíamos é que o nosso reencontro iria ser muito antes do que a gente imaginava. A vida nos surpreendeu e exatamente um mês e uma semana depois eu estava de volta em Londres.

Em uma manhã de quinta-feira liguei para ele porque eu sabia, lá no fundo, que alguma coisa não ia bem. Em nenhum momento ele tinha me dito que estava doente e que ainda não tinha descoberto o que era. Ele me escondeu o sofrimento, porque não queria me preocupar e me assustar. Quando foi diagnosticado, seu primeiro pensamento foi esconder o diagnostico de mim. Mas ele tinha que me contar. A informação veio pela sua irmã, que pelo telefone me disse que ele estava muito doente e que ele tinha câncer. Sem saber muito como reagir desliguei o telefone e liguei para o meu pai. As lagrimas, grito e choro eu contei pra ele o que tinha acontecido, que Henry estava com câncer e ele, sem nem vacilar, perguntou se eu queria ir pra Londres. Minha resposta foi sim. Pedi demissão do emprego, fiz as malas e uma semana depois eu estava em Londres. Realmente, não sabia muito bem o que iria acontecer. Claro que muitas coisas se passaram pela minha cabeça, sabia o quão séria tinha sido a minha decisão, mas fiz isso por ele e só por ele e em nenhum momento pensei em não fazê-la. Dediquei cinco meses da minha vida a vida dele. Fiquei do lado, dando força e passando um pensamento positivo incomparável. Mesmo nos dias de tristeza, eu colocava um sorriso no rosto e fazia-o rir. Fiz aquilo por ele e faria mais mil vezes se fosse preciso. O transplante, sem dúvida nenhuma, foi o pior momento. Quando eu vi, pela primeira vez, aquele homem forte e decidido enfraquecer, ficar debilitado. Foi muito difícil. As vezes dava uma vontade de gritar, só em vê-lo daquele jeito. Mas eu não podia, não podia fraquejar. A cada dia nossa relação se fortaleceu mais, aquele amor que existia triplicou e a vontade de ficar junto pra sempre foi incontrolável.

Nesses cinco meses me aproximei bastante da sua família e por várias vezes eles me ampararam e eu os amparei. Infelizmente Henry ficou doente, mas também tenho plena consciência, que se essa doença não tivesse acontecido nas nossas vidas, eu e a família Scot-simmonds talvez nunca tivéssemos essa proximidade, cumplicidade, amizade. Eu aprendi a amá-los e eles fizeram o mesmo. Hoje, eu sei que eles são muito gratos pelo meu gesto. Sei também que isso os fez me amar como uma filha. Sei que ganhei um outro pai e uma outra mãe. Sei que o fiz pelo filho deles e que não tem dinheiro no mundo que pague.

Agora, infelizmente, estamos separados. O amor não acabou. A distância nos ajudou a perceber que longe um do outro é como não podemos viver. A saudade dói mais a cada dia e eu não vejo a hora de voltar a morar com ele, dividir a minha vida, meus problemas e minha felicidade. Hoje, infelizmente, ele não pode vir pro Brasil, mas um dia, quando tudo isso passar, temos planos de vir para o Brasil e construir a nossa família. Enquanto esse dia não chega Londres será o meu novo lar. Mas por ele, eu iria pra qualquer lugar.

Atenciosamente,

Marcela Coutinho Pontual

2 Comments:

Blogger Mago said...

Glan glan glan glan glan... Eu quero uma dessas pra mim. Escreve, vai.

12:15 AM  
Blogger LeLi said...

Tu nao sabe como eu fiquei depois de ler isso... e depois de ler a dai debaixo. Estarei lá em Junho! Beijos!

1:35 PM  

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